sexta-feira, setembro 23, 2005
Usufruir
Fui ao lançamento de um livro escrito por um médico. Durante a sua apresentação, o médico dissertou sobre o facto do ser humano viver a sua vida com uma única preocupação: prolongar o prazo de algo que só nos acontece uma vez, a morte.
"Com a ideia desse inevitável Fim presa ao nosso inconsciente, tentamos envelhecer o mais lentamente possível para manter a ilusão que esse Fim está longe, ou até mesmo a utopia que o dito Fim nunca irá chegar. O Fim, que até pode ser melhor que o Princípio ou um momento de alívio para nós... e até mesmo para os outros."
À medida que envelhecemos vamos arranjando cada vez mais soluções que nos tornem mais saudáveis. Evitamos os excessos, deixamos de fumar, comemos comida sem sal, sem açucar, sem sabor, começamos (numa fase tardia) a fazer exercício físico, tudo para que aquele momento final não chegue, que nada acabe, ad eternum. "Subimos escadas, descemos escadas, corremos quilómetros, saltamos. Ou então enchemos, esticamos, pintamos, cortamos, ajustamos, trocamos, etc."
O livro chama-se "O USUFRUTO", e a mensagem que este médico quis transmitir foi que o ser humano deve usufruir em vez de tentar alterar ou prolongar. O segredo é usufruir, carpe dium. E (questão de médico) "porque é que o ser humano não usufrui mais do melhor exercício físico que existe: o sexo?"
"Um acto sexual corresponde a meia hora a andar em passo acelerado. Se for tântrico, então, corresponde a hora e meia em corrida lenta. O acto sexual é um exercício partilhado, em que um sentimento comum estímula o usufruto de uma vida saudável. E aí sim, meus amigos, caros convidados, o tenebroso Fim deixa de ter qualquer importância."
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