quinta-feira, janeiro 17, 2008
Qual o prazo de um post num blog?
Pergunto isto porque estou para colocar um post sobre a minha passagem de ano na Holanda desde... bem, desde a passagem do ano.
Mesmo correndo o risco de este post já estar um pouco coalhado e a cheirar a bafio, passo a descrever a minha viagem ao país dos canais: extremamente agradável!
Com hospedaria em Delft, uma santa terrinha entre Amesterdão e Roterdão, onde um casal de “cool-cats” albergou oito felinos na sua acolhedora “sandbox”, foi com um sorriso permanente que palmilhei todo um país, umas vezes a pé (não raras vezes a fugir de bicicletas assassinas!), outras vezes de comboio e, ocasionalmente, como aconteceu a um dos meus companheiros de viagem num famoso bar de Amesterdão, de bruços.
Foi com incontido prazer que encontrei pelo menos uma loja especializada em BD nas diversas cidades onde estive e foi com uma mais contida decepção que fiquei a saber que na Holanda não se produz vinho... ou pelo menos não se o encontra à venda.
Dos sítios que visitei, para além de Delft, onde não me importava de viver desde que estivesse o dia todo a ronronar junto de uma lareira a crepitar na televisão(?), aquele que mais me marcou foi, sem dúvida, Amesterdão.
Depois de Roterdão, uma cidade que foi toda reconstruída depois da guerra, com prédios de todas as cores e feitios (inesquecíveis, as casas diagonais – imagem 1), esperava que Amesterdão fosse também uma urbe altamente modernizada e cheia de grandiosidades. Foi no momento em que pus as patas fora da estação de comboios que vi o quanto tinha subestimado o conservadorismo dos “caras-pálidas”. A maior estrutura metálica com que me deparei foi um enorme parque de estacionamento para bicicletas, totalmente lotado. Imaginei-me um holandês calmeirão a fazer um moche às binas para sacar a minha que estivesse lá para o meio. Certamente que as holandesas calmeironas ficariam surpreendidas com a minha atitude punk-rock e rasgariam a roupa para se atirarem, também elas, para o meio da orgia de ferro, pedais e punhos de couro!... Estava ali há menos de 2 minutos e a promiscuidade que se respirava naquela cidade já me estava a afectar. Mal sabia eu que, horas mais tarde, entraria no “ground zero” da promiscuidade.
A 50 passos da estação, descobrimos o primeiro ponto de interesse: o Museu do Sexo. Entrámos. O ambiente era agradável, sem grandes comiserações ou refúndios, com naturalidade, muita luz e até algumas instalações com bonecos mecânicos a desmistificar algumas parafilias. Para além dos inúmeros artefactos de todos os cantos do mundo, possuía uma esplêndida colecção de obras gráficas, incluindo fotografias e filmes dos primórdios da pornografia. De louvar também a representação indiscriminada de todos os géneros de preferências sexuais, incluindo o fetichismo, o bestialismo e até mesmo a necrofilia, ainda que estes estivessem numa zona mais restrita, antecipada por um simpático aviso aos mais sensíveis. Sim, isto porque o museu é visitado por famílias inteiras, aspecto que muito admirei e aplaudi. Acho sinceramente que não se devem fazer concessões sobre um assunto que diz respeito a todos, desde que somos concebidos até sermos comidos à bruta pelos vermes.
Depois de concluirmos o percurso algo labiríntico que ligava as diversas salas, saímos do museu e penetrámos no centro da cidade. Com os canais sempre em grande destaque, os elementos mais emblemáticos eram os prédios com não mais de três andares, quase todos inclinados devido ao efeito das águas nos alicerces. No mercado das flores vimos as únicas túlipas da nossa viagem apesar de ficarmos a saber que as flores que a Holanda mais exporta são as rosas!
Almoçámos sandes de pedra com carvão que, no menu, vinha identificado como “hambúrguer suculento em pão caseiro com sementes de sésamo e molho especial”.
Percebemos que não era só o facto de andarem de bicicleta que fazia os holandeses serem magros...
Demos mais umas voltas pela cidade, na qual NÃO vimos nem entrámos em nenhuma coffee shop e onde NÃO ficámos a perceber porque é que metade da população nos olhava com as persianas dos olhos semi-cerradas! Continuo a achar que tudo isso foi um mito que se criou, única e exclusivamente para prejudicar a imagem saudável da cidade de Amesterdão...!
Com o sol a pôr-se por volta das 4h30 da tarde, chegámos ao “ground-zero”, perdão, ao Red Light District (imagem 2) por volta das 5h30. Ainda como poucas “manequins” nas montras, deu para perceber que, ou era da hora, ou a qualidade apresentada é deveras altíssima. Dava, obviamente, também para ver que muitas delas não eram de fabrico caseiro, algumas envergando mesmo a bandeira da sua nacionalidade, mas pela breve amostra que tive o prazer de auferir (Fonzie, para a próxima vês as miúdas, prometo!), fiquei com a nítida sensação que o bairro se tenta superar a si mesmo à medida que vamos subindo as ruas, sendo a parte mais baixa, perto da estação, aquela onde se podem ver os exemplares com belezas, digamos, mais alternativas.
Há que dizê-lo que, durante toda esta prospecção puramente técnica(!) do mercado, tive a companhia incansável e curiosa da minha gatinha que, surpreendentemente, se interessou por conhecer o interior de algumas sex-shops. “Props” para ela e para a sua pussy-sister-in-crime (you know who you are!), que me fizeram sentir menos como um pequeno gatinho perdido numa retrosaria. Após uma rápida deambulação pela sinuosidade das ruas (e não só), houve necessidade de um regresso antecipado à “sandbox” de Delft (certamente um forma do destino promover a necessidade de uma próxima visita). A nossa viagem à Holanda culminou então com uma visita à cidade pitoresca de Utrech e com um final de ano tipicamente português, não fossem os malucos dos holandeses andarem a lançar foguetes do meio da rua, com alta probabilidade de algum deles lhes acertar nos países-baixos (estava a ver que ia acabar o texto sem fazer este trocadilho).
Finalmente, um muito obrigado aos nossos anfitriões (ti carlos e ti mufs em grande!) e, a todos os que quiserem visitar Delft, aconselho a subida à torre da igreja lá da terra. Vale a pena porque a vista lá em cima é de cortar a respiração e tem a vantagem de ter um confortável elevador. É de cair para o lado!
Imagem 1
Imagem 2
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