sexta-feira, agosto 27, 2010

Double dare...


Ontem foi noite de sessão dupla. Duas de seguida. Ménage à troi no cinema... não, não foi assim tão interessante.
A primeira tareia foi-me dada com maldade mas, assumo, por culpa minha. Eu sabia ao que ia, e ainda assim fui. O senhor Richard Kelly já me tinha deixado boquiaberto durante 2 horas com a bomba atómica que é Donnie Darko. Foi literalmente o filme onde eu só senti que estava a respirar quando acabou. Nunca vira filme tão estranho na vida. Vai daí, sabendo que o senhor voltara às lides da entranheza, ainda por cima metendo a Cameron Diaz ao barulho, dando-lhe finalmente um papel sério, sem ser apenas o de miúda gira e superficial, tinha de ver para crer. Vi. E, não fosse o intervalo, não teria pestanejado. Sem ser melhor que Darko, é uma história estranha que deixa um amargo de boca mais àspero que lamber uma lixa durante duas horas e depois, com a língua em sangue, mastigar pedras de sal embebidas em molho pesto.
Três ilações: Primeira: a história, baseada no conto "Button, Button", que já tinha sido apresentada num episódio da série Twilight Zone (podem ver aqui), é verdadeiramente estranha e cativante, mas é demasiado amarga, depressiva, negativa e não deixa nenhuma luz ao fundo do túnel. A mensagem é clara: a humanidade, pessoa a pessoa, vai-se condenando a si mesma. Não há redenção. Há apenas a lei do salve-se quem puder. E as prioridades só voltam a ter relevo na nossa consciência quando já não há saída. É uma mensagem que, numa altura de depressão global, nos deixa de rastos.
Segunda: a estranheza do filme é conseguida de várias formas, mas há momentos em que se torna um bocado ridículo, o que corta um bocado a emoção (nesses momentos não pestanejei, mas arqueei a sobrancelha).
Terceira: é curioso perceber quem é que carrega sempre no botão das diversas caixas e o que isso poderá significar. Para além disso, o nome da personagem principal feminina é "Norma".

Depois de um açoite destes, tinha de desanuviar a cabeça e voltar a acreditar que o mundo (mesmo que não seja este) pode ter salvação. Então refugiei-me no meu universo preferido, o da fantasia, e fui ver "O último airbender", de M. Night Shyamalan (sim, o mesmo do Sexto Sentido).
Tinha ouvido dizer que era um filme para pessoas com um Q.I. muito reduzido e receio ter de dar razão a essa crítica. Enquanto assistia ao filme em 3D (uma roubalheira que não vale a pena), só pensava como é que M. Night Shyamalan se tinha metido naquilo. Ele realizou o "Unbreakable", um dos melhores filmes sobre super-heróis de sempre e que se baseia no realismo da história, para que é que ele se foi aventurar num estilo que não lhe diz nada? Para além de coisas ridículas como todos os figurantes serem asiáticos e as personagens principais (supostamente das mesmas tribos que os figurantes) serem todas caucasianas ou indianas (excepto o pequeno avatar, que é perfeito para o papel, diga-se de passagem). Ou seja, aquele filme podia ter sido realizado por um gajo qualquer. Não se vê ali M. Night Shyamalan em lado nenhum, a não ser no seu já habitual "cameo" à la Hitchcock.
De qualquer forma, serviu para elevar o espírito e conseguir dormir mais ou menos descansado.
Só não posso é ver botões à minha frente...

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