Tenho uma avó que é uma catalizadora de positivismo, apesar da vida dela ter sido uma verdadeira série de desgraças. Ninguém na minha família teve uma vida pior que a dela e, ainda assim, ela é a maior fonte de luminosidade, entusiasmo e mimo que temos. Neste último fim-de-semana, ela passou o sábado com alguns dos seus irmãos (chegaram a ser 10, agora são só 5) e quando esteve conosco no domingo vinha cheia de felicidade para dar, sem nunca vender, nem comprar. Desde que a conheço que ela se entusiasma com pequenas coisas, só por estar com as pessoas, com pequenos gestos, pequenas atenções, um abraço, uma palavra, a felicidade dos que lhe são próximos, o sucesso pessoal e profissional, a saúde, o crescimento, a evolução, a criatividade e a alegria em geral. A única coisa que alguma vez nos exigiu foi também poder fazer parte dessa parte positiva das nossas vidas. Nunca nos cobrou algo que não merecesse, e geralmente eram sempre coisas fáceis de dar. Os poucos arrufos que eu e ela tivemos foram geralmente porque eu passei por uma fase demasiado intransigente, onde era contra todas as regras, todas as leis, inclusive cheguei a ser contra a própria felicidade, porque para quem gostava de escrever e tinha regularmente duvidas existenciais e decepções emocionais que pareciam ser o fim do mundo, não havia melhor estado de espírito do que a infelicidade. Cenas da juventude.
Mas a maneira de ser da minha avó não se alterou com o tempo. Mesmo com os problemas de saúde que hoje enfrenta (nada de grave, apenas dificuldade em andar), parece que o seu sorriso está cada vez mais aberto.
Mas voltando ao ponto de reflecção. Neste último almoço de família, a minha avó vinha a transbordar de alegria e dos mimos que recebera no sábado anterior. Os seus olhos brilhavam-lhe e distribuía sorrisos e elogios por toda a gente. Fez-me pensar: poderá o ser humano (e quem diz ser humano, diz todos os seres vivos) ser um catalizadores das emoções de que é alvo? Claro que não será apenas por esta razão, porque nós temos condicionantes inerentes que funcionam como "selecionadores" do tipo de coisas que nos influenciam ou não e da forma como as entendemos, mas poderemos nós ser melhores ou piores pessoas consoante aquilo que nos é "infringido" durante a nossa vida?
Das poucas coisas que me orgulho ao longo da minha vida é dos amigos que escolhi manter junto de mim. Digo "escolhi" porque foi mesmo intencional. Escolhi afastar-me das pessoas que sentia que me faziam mal ou que me levavam por caminhos que eu não queria. Escolhi afastar-me das pessoas que eu sentia que me estavam a transformar no pior sentido. Porque também senti que era permeável a isso. Lidar com pessoas pouco pacientes fazia-me ser menos paciente. Lidar com pessoas brutas fazia-me ser mais bruto. Lidar com pessoas sem escrúpulos fazia-me pensar menos nas consequências daquilo que fazia. E enquanto somos jovens e ainda nos estamos a descobrir interiormente, por vezes não sabemos se essa influencia nos está a transformar ou a revelar o que realmente somos. E isso pode ser muito assustador.
Por isso, ao longo da vida escolhi quase sempre conscientemente as pessoas que queria próximas de mim e aquelas que não queria. Muitas afastei porque sentia que eram más influências, outras afastei porque exigiam demasiado de mim, outras afastei porque eu exigia demasiado delas. Aliás, se formos a ver bem, todas as nossas relações são definidas por distancias. Se fizermos um gráfico, depressa conseguimos definir a distância "de segurança" ou "de conforto" que temos em relação a todos aqueles que nos rodeiam. Mesmo entre os membros da nossa família. Nem todos estão tão perto de nós como alguns dos nossos amigos. Há uma hierarquia que muitas vezes nem sempre é justa ou justificada, mas que precisamos que exista para conseguirmos ter o nosso espaço, para que nos consigamos movimentar por entre todos aqueles de que precisamos e que precisam de nós. E a energia emocional que catalizamos para cada uma dessas pessoas também é diferente. Daí os laços que criamos e a influencia que essas pessoas têm em nós (e vice-versa) definir também a forma como nos damos com elas.
Não sei se acontece com toda a gente, mas comigo acontece outra coisa curiosa. Eu sou percepcionado em diferentes grupos de forma diferente. Não é algo propositado. A energia que recebo e que dou é que difere. Isso provoca que, em determinados grupos, eu seja considerado uma pessoa mais extrovertida que noutros, tenha um estatuto mais relevante ou menos relevante, tenha uma aceitação mais benévola ou menos benévola, tenha uma margem de manobra maior ou menor, etc. Nas primeiras vezes em que identifiquei essas diferenças fiquei preocupado. Quem era eu afinal? Um maluco ou um totó? O rei da festa ou o bobo da corte? O bucólico ou o boémio? Achava que o problema era só meu, mas depois percebi que havia mais pessoas assim. Claro que tudo influenciava: o contexto, o estado emocional, o próprio dia, etc. Mas há pessoas que seja qual forem essas condicionantes têm sempre a mesma postura e a mesma relevância. Cheguei a invejar essas pessoas. Mas também há outras, como eu, que sentem muito mais o impacto do fluxo de energia e emoções de um determinado grupo ou situação.
Nesse sentido, gosto de acreditar que somos catalizadores de emoções e gosto de proporcionar as melhores emoções a quem me rodeia. Tal como na teoria do arroz. Vejam aqui (sem som!): http://www.youtube.com/watch?v=-1nCeFdHZu0
1 comentário:
Primeiro a cena parva, que também merecia uma reflexão. Dás-te ao trabalho de escrever o (sem som) e a primeira coisa que fiz foi ligar o volume - big, big mistake! :)
A propósito da cena do arroz, o sr. Masaru Emoto tem muito a dizer e a mostrar sobre o poder das palavras e das emoções. Vale a pena dares uma vista de olhos; o meu irmão tem um livro meu que te pode emprestar se calhares a estar com ele - também andou intrigado com estas coisas.
Se somos energia, produzimos energia e recebemos energia é lógico que atraiamos - é assim que se escreve? - pessoas que andem na mesma frequência ou que passemos a andar na "frequência" daqueles com quem passamos o nosso tempo, quase como se fossemos espelhos uns dos outros. É a eterna história do positivo atrai positivo e vice versa. Se eu estou bem a tendência é que me rodeie de pessoas que também estejam e vice versa. Afinal, não somos só espelhos, também somos esponjas.
Acho que era isto.
Beijinhos :)
Mara Q.
Enviar um comentário