terça-feira, novembro 27, 2012

Desfada...


À primeira vista o álbum é todo muito bom de uma ponta à outra. Mas depois de o ouvir 10 vezes, começamos a perceber que, para além de ser muito bom, tem momentos simplesmente geniais. Em especial para mim, um desses momentos é a canção "Havemos de acordar", escrita pelo incrível Pedro da Silva Martins, guitarrista e letrista dos Deolinda. Já tinha falado dele como um dos artistas mais talentosos e menos conhecidos do país, e mais uma vez o provou, tendo sido o único a escrever duas músicas para este álbum (mérito também da Ana Moura que o convidou).
"Havemos de acordar" é uma obra-prima-tia-mãe-avó-irmã-madrinha-cunhada-afilhada-etc da música mundial. É perfeita do primeiro acorde à última palavra. Para além da música, é o que se diz, como se diz e por quem é dito. As rimas internas, as frases suspensas, as palavras medidas ao milímetro, o sentido etéreo e eterno dos sentimentos e todo o arranjo musical e vocal que envolve o conteúdo, fazem desta música uma daquelas músicas duram milénios e da qual ansiamos nunca nos fartarmos delas. A primeira música, "Desfado", também escrita por Pedro Martins, não é fácil de entrar no ouvido, mais porque cumpre uma função do que propriamente explora sentimentos. A função é desconstruir o fado e a fadista (como o título da música/álbum indica), mas na sua funcionalidade é também um trabalho brilhante.
É sem dúvida um disco surpreendente, com pequenos altos e baixos que têm a ver com os riscos que foram tomados. Mas compensa. Compensa mesmo...

Sem comentários: