Durante vários anos, quando me projectava num futuro idílico, via-me como um actor. De comédia, sem dúvida. Por esta altura, se o meu sonho tivesse tomado proporções reais, estaria na fase em que já andaria com aquela petulância de, depois de fazer rir o grande público, querer tornar-me um actor sério, "a sério", como todos os actores de comédia portugueses.
Fui tendo algumas experiências em teatro. Primeiro como aprendiz de teatro "a sério", depois em núcleos de teatro amador e finalmente como participante em concursos de teatro/comédia de improvisação. Esta última aventura levou-me a dois sítios. Primeiro a Roma, quando ganhei um dos concursos, e depois a trabalhar com os Commedia a la Carte e a perceber que, na verdade, um actor não tem forma, tem apenas função. E a minha função, no caso de poder ter alguma, seria actor de improvisação. No circo seria o trapezista sem rede, na política seria o deputado sem texto, na televisão seria o apresentador de directos, num jantar de gala seria o gajo sem calças. Não seria actor de método, estudioso, compenetrado, com superstições, com truques ou com manhas. Seria um actor do desenrascanço, à antiga portuguesa. Porque só o improvável, o caos, o momentâneo daria espaço para o expressionismo absoluto, para o absurdo, para a criatividade pura e dura.
Vai daí, há uns dias fui ver isto ao vivo (com a participação do meu bom amigo Mário Bomba):
Num infeliz volte-face, chamaram-me ao palco para participar numa das improvisações dos Improváveis e o caruncho lá voltou a roer.
Damn it...
2 comentários:
amor, brilhante!!!
tive aki um verdadeiro moment de risota e lagrima. thnks! k saudades already!
bejos mil, m+bp
Mixed emotions. I like that! :)
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