terça-feira, maio 18, 2010
Come fly with me...
Se a vida fosse um puzzle, cada peça seria uma experiência e os espaços entre as peças seriam os momentos em que reflectimos, em que dormimos, em que sonhamos. São esses momentos de quietude que nos permitem conjugar as experiências por que passamos na nossa mente e as fazem permanecer na nossa memória ou serem lançadas no esquecimento.
Quando nos falam em viver a vida ao máximo, agarrar todas as oportunidades, "aproveitar o momento", é isso que estão a tentar dizer-nos: construam o puzzle da vossa vida. Porque mesmo que nunca cheguemos à imagem completa, quanto mais peças tivermos, mais conseguiremos perceber o que realmente estamos aqui a fazer e teremos aproveitado intensamente o privilégio de viver. E quantas mais peças juntarmos, mais teremos acesso a novas peças, porque umas dão passagem para outras, seja uma experiência radical, uma viagem, uma nova carreira, um novo sonho, uma nova amizade, uma nova paixão, um novo amor, etc. A única regra é nunca prejudicar os puzzles dos outros. E se os pudermos encaixar no nosso, mais inteira ficará a nossa vida.
Eu não tenho uma "bucket list" mas quando vi este filme (entre muitos outros que falavam na teoria do "seize the moment") lembrei-me do meu futuro. O que seria de mim num lar, sem forças para me levantar e a pensar no que não fiz? O que seria de mim se olhasse para trás antes de "kick the bucket" e visse que houve oportunidades que não aproveitei por medo, por vergonha, por ignorância, por incompetência ou, pior do que tudo, por perguiça? O que seria de nós se nunca arriscássemos, se nunca quisessemos espreitar para lá do cenário que nos foi montado, como no "truman show"? Não digo que, de repente, deixemos tudo para trás e passemos a ser inconsequentes, só porque temos de experimentar tudo. Não é assim que se constrói um puzzle. Assim só teríamos peças soltas. Mas por vezes é preciso sair do conforto, da estagnação e da rotina que nos tornam indolentes à mudança, aos desafios, à loucura enquanto forma de quebrar as regras.
Ao longo da minha vida ouvi histórias de anciãos que se limitaram a viver a vida que lhes calhou na rifa. Que nunca puseram o pé fora da linha. Também há quem não ache isso necessário, quem se contente em seguir o caminho já traçado, o seu "destino". A lei da compensação também se aplica aqui. Mas há quem siga os exemplos e há quem aprenda com eles. Assim como há filhos que saem aos pais, há filhos que se rebelam dos pais. É também por isso que não há definição para uma educação correcta. Depende sempre de quem educa e de quem aprende. O filho de um pai alcoólico e violento pode tornar-se num psicólogo especializado nestes casos devido à sua experiência, assim como um filho de uma família rica e cheia de etiquetas se pode vir a tornar num rebelde delinquente por ter sido reprimido ao longo da sua vida toda. E assim como não há regras para a vida (nunca se sabe quando um acidente pode acabar com ela), não deveria haver regras para como devemos vivê-la. Apenas formas de vida. Assim como existem tons de cores, não apenas preto e branco.
Foi nisto tudo que pensei quando resolvi saltar de um avião a 4000m de altura. Foi nisto tudo que pensei quando vi o abismo a devorar os meus olhos e os meus ouvidos. Foi nisto tudo que pensei enquanto pairava no ar, pendurado um pára-quedas, com as virilhas em extremo aperto. Foi nisto tudo que pensei quando aterrei num terreno verdejante e percebi que tinha mais uma peça para colocar no meu puzzle...
Fly? Check!
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5 comentários:
foi muito mais do que eu estava à espera :)
acho que já te disse...mas tens um dom! é muito bom ler-te!!! :) :)
e que tal, gato?
como conseguiste pensar nisto tudo?
como sempre ainda bem que escreves, porque assim eu leio.
aquele abraço
Muito Bom! Salto Tandem ainda não faz parte do meu puzzle.
Desafio: Arriscavas uma queda a livre a solo?
Não, Mike, por mim está feito. Agora é só curar a amigdalite que apanhei e partir para outra ;)
Admiro-te!!!
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