sexta-feira, outubro 07, 2011

Os tempos dos timmings...

Fiquei rendido. Era muita coisa boa para não gostar. Primeiro, a arte. Depois a história. Depois a estória. Depois o romance. Depois a fantasia. Depois a magia. E finalmente a cidade.
A arte é um mundo em si mesma. Um mundo paralelo onde se vivem outras vidas. A arte presta-se a tudo. A todas as interpretações, a todas as análises, a todas as perspectivas. Mas a arte é uma única coisa. Emoção. As técnicas diferem, vão e vêm, mas a emoção permanece. E quanto mais honesta for a emoção, mais extraordinária é a obra. Hemingway poderia ter dito algo parecido...
A obra de Woody Allen tem momentos em que a honestidade difere, o que faz com que alguns dos seus filmes se percam na memória e outros permaneçam. Este é daqueles que deverá permancer, pelo menos na minha memória. O tema tocou-me em vários pontos sensíveis e a conclusão levou-me a reflectir sobre diversas coisas. A própria viagem (não pelo espaço, mas pelo tempo), deixou-me tão enfeitiçado como deixou o personagem de Gil. Também ali estavam alguns dos meus heróis, das minhas referências, dos artistas que fizeram a minha história e que me fizeram apaixonar pela Arte. Também ali estava um desejo meu, de regressar ao tempo em que tudo parecia mais honesto, mais fervilhante, mais apaixonante. Mas, assim como me deixei enfeitiçar pela viagem, também aceitei o regresso ao presente. A ideia de que o passado faz-se de presentes e, tal como o bom português diz que "o que é bom é o que vem lá de fora", o Homem do presente também tende a achar que os bons tempos são os que já lá vão. E talvez o melhor esteja a acontecer aqui e agora.
São estas visões de um homem de 75 anos que tocam a pessoas de todas as idades. É esta universalidade que faz com que os melhores filmes de Woody Allen passem a fronteira do ecrã e entrem na nossa alma. Porque os seus filmes também têm timmings. E o filme certo no timming certo (seja o tempo do mundo, seja no tempo da nossa vida) podem fazer-nos pensar em todas as coisas que fizemos ou não no nosso timming certo.
À meia-noite em Paris (ou em Lisboa, ou noutra cidade do mundo) pode ser que o timming seja certo para muita gente. Pessoalmente, prefiro o lusco-fusco...

1 comentário:

Frederico disse...

Excelente! Salvaguardo apenas que cada um vê o que os seus olhos (e/ou alma) vêem, pelo que cada um terá a sua própria Meia Noite em...

Grande Beijo (do tio meio desnaturado) para a minha querida Carol!