terça-feira, janeiro 29, 2013

Escravos no/do cinema...














Primeiro, Lincoln. Uma história real. Grande filme. Maior Daniel Day Lewis. Um enredo lixado de seguir mas com as legendas vai-se lá. Imagens de antologia como só Spielberg sabe criar e performances de luxo, do actor principal ao último figurante. É engraçado como a libertação dos escravos foi uma luta ganha pelos republicanos aos democratas, e o primeiro presidente americano negro acabou por ser um democrata. Uma grande lição de política que pode comprometer o óscar de melhor filme (porque na américa a política é e sempre foi a preto e branco... partidariamente e literalmente).
















Depois, Django Unchained. Uma história ficcional, passada supostamente dois anos antes do filme de Lincoln. Tema comum: os escravos. Django é um filme séria A com todos os clichês de um filme série B. Um filme à Tarantino. E com isto quero dizer um filme que celebra o cinema enquanto arte e provoca a controvérsia. A celebração do cinema prende-se com o facto de este ser um pseudo-remake de um filme de 1966 (http://www.imdb.com/title/tt0060315/), de onde foram retiradas inspirações cinematográficas e a própria música do genérico. E essa é a marca de Tarantino. Para se saborear as suas confecções como deve ser, tem de se saber de onde elas vêm, não se pode atacar o Chef sem se saber do que se está a falar (como este totó fez: http://www.youtube.com/watch?v=DTE8FPgHeE4). A controvérsia da violência é ridiculamente forçada (depois de milhares de filmes violentos feitos desde sempre) quando a verdadeira questão difícil de engolir é a questão da escravatura, que no filme do Lincoln passa muito despercebida (aliás, nem se percebe o que leva os republicanos a querer o fim da escravatura, porque as razões enunciadas parecem demasiado "boazinhas"). A questão de uma sociedade que escravizou a sua própria população é que custa engolir, é que custa trazer à baila. Litros de sangue e cenas de violência já se viam em cinema antes do Tarantino saber o que era uma máquina de filmar. O problema é que os americanos sempre gostaram de violência na vida real, por isso estão actualmente a debater o direito às armas que sempre tiveram mas que agora servem também para matar crianças em infantários. Pior do que um filme (uma fantasia, uma catarse como afirma inteligentemente Tarantino) é a realidade dos telejornais, da maldade humana real, da insanidade com armas reais à mão de semear. Isso é que deve ser preocupante.

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