quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Apeteceu-me escrever...

Um blog é como um bloco de notas que se vai preenchendo ao sabor do desejo de escrever. Com um tema, vários temas ou nenhum tema em especial, é um local onde se libertam as ideias à medida que vão elas surgindo. E daí, talvez não.
Costumo consultar blogs diários, que falam de assuntos específicos, obrigando os seus "fornecedores de conteúdo" a debruçarem-se sobre questões profundas e a desenvolverem extensos textos de notícia e análise. Outros são mais relevantes pela ligeireza e simplicidade da escrita, pelo pensamento livre e mundano, mas ainda assim atento à realidade, incisivo, aberto, muitas vezes ideológico, por vezes até mesmo revolucionário. Outros ainda singram pela beleza, pela efemeridade, pela alegria ou até mesmo pela pura magia.
Sendo assim, afirmo que este não é um blog regular. Não é actualizado todos os dias, os temas não são pertinentes, a forma de escrita não é sempre igual, nem sequer há uma referência contante ou mesmo interesse pelas notícias nacionais ou internacionais. Considero este um blog mental e, como a mente, não tem consistência. Os textos e as imagens que aqui publico não fazem parte de uma apetência recalcada para o ofício jornalístico, analítico, crítico ou paralítico. Aqui o que conta é a vontade, a vontade de escrever ou não escrever, de mostrar ou não mostrar, de entender ou não entender, de reagir ou de fugir, de postar ou apostar.

Agradeço a todos os que visitam este blog e principalmente aos que partilham comigo o seu comentário, porque esse sim, é o intuito de um blog: partilhar ideias.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Última hora...









É oficial: Portugal continua imune à gripe das aves! Grande vôo!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Romântico...















O Pesadelo, 1781, Henry Fuseli.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Primeiro estranha-se...

"Estranho é um programa sério, que o seu autor, Miguel Matias, entende que "até será main-stream, mas que é estranho". Os argumentos dos 13 episódios "sofrem sempre um twist final", porque o objectivo passa por tentar captar a atenção até ao fim, já que "as coisas estranhas acontecem sempre antes das más". O elenco é de luxo e inclui nomes como Rogério Samora, Diogo Infante, Rui Unas, Teresa Tavares, Kjertsi Kaasa, Rita Andrade e Solange F.
Na Sic Radical, Estranho, "a série", passa às quartas-feiras, às 23.25."

Para além de uma excelente realização e sonorização, as interpretação não soam só bem pelos nomes, são realmente boas. As estórias são simples (umas mais simples que outras) e por vezes não têm mais de 15 minutos de duração. No entanto, conseguem mesmo prender a nossa atenção, apesar do twist final às vezes não ser tão compensador como possamos pensar à partida. Como mais valia, há ainda um grande sentido de erotismo latente, sempre essencial em estórias de terror.

Não sendo uma lufada de ar fresco no panorama da ficção nacional, é a lufada de ar podre que já fazia falta às minhas noites de quarta-feira. Estranho?

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Feliz dia pós-dia dos namorados



















Feliz o dia em que um beijo não se compra.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Talvez












O que faz um beijo na minha almofada? Tinha-a guardado para a altura certa, para quanto ELA viesse cá a casa, dormir comigo, só dormir, nada mais. Agora vejo que tem um beijo. Pintado de vermelho, como se fosse sangue e não baton. Um vermelho bem vivo, entranhado no tecido. Assim já não a posso usar quando ELA me vier visitar. Tiro-lhe a fronha e ponho-a para lavar. A meio da actividade a máquina dá o berro e começa a cuspir água. Vá de lavar à mão, à moda antiga, com uma barra de sabão. O vermelho custa a sair. O branco tingido vai ficando cor-de-rosa. O rosa alastra-se. As mãos ganham cor. A campainha toca. Era hoje que ELA vinha. O rosa chega-me à face. O ralo borbulha com o escorrer da água. A espuma permanece na bancada da cozinha, como se pertencesse à mobília. Com a fronha corada entre os dedos vou salpicando o chão inundado. Desfaço-me em água junto à porta de entrada. A campainha volta a tocar. É ELA, é ELA, tenho que me despachar. Laço a fronha no estendal. Uma bandeira cor-de-rosa à janela é sinal que lá vem ELA. Limpo as mãos à roupa que também ganha outro tom. Puxo o cabelo para trás. Vejo se o hálito está bom. Cheira a sabão e água raz. Desço as fronhas da camisa e coloco um sorriso sobre a gravata desalinhada. É agora, o tudo ou nada. Destranco a porta com duas voltas e meia. Os trincos giram sobre si até que o monstro blindado se liberta da tensão. Faço o movimento de abertura para mim mas a porta fica presa no chão. O meu sorriso descai ligeiramente, perturbado com a pouca fluência do gesto. ELA do outro lado à espera da minha insistência. Asseguro-lhe que tudo está bem, conforme estava planeado. Transpirando, oiço os saltos dos seus sapatos por todo o lado. Deve estar farta de esperar. Arregaço novamente as mangas para um último gesto de força. Os meus dedos enrugados da água colam-se ao objecto emadeirado. Força, força, penso eu, lembra-te do que está combinado. Finalmente a porta cede, mas abre com tanta força que não evito ficar entalado. Caio no chão, completamente estafado. ELA entra, muito recta, com os seus saltos bem altos. Os meus olhos nem acreditam. Sigo o torneado das pernas, subo a anca e as costas. Perco-me no desenho do pescoço até me deixar apanhar pelos ganchos do cabelo. ELA nunca pára. Segue sempre direita ao quarto. Levanto-me, ainda cambaleante. Levo as mãos à cabeça para tentar ficar equilibrado. Tento manter-me erguido mais do que alguns segundos mas as minhas pernas fraquejam. Volto a cair para o lado. Desta vez permaneço sentado. Talvez amanhã consiga chegar até ELA.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Petit mort



















"Um terço das mulheres finge o orgasmo", vinha hoje num destaque do jornal METRO.
Segundo um estudo da Sociedade Portuguesa de Andrologia e dos Laboratórios Pfizer, 32% das mulheres admite não atingir o orgasmo. Uma das ginecologiastas responsáveis diz ainda que "depois de quatro anos, o número de relações nos casais diminui, quer pela rotina, quer pelo stress e, como tal, as fantasias sexuais são fundamentais, porque 80% da sexualidade é mental".
Isto faz-me lembrar uma das frases mais emblemáticas de Leonardo Da Vinci: "a arte é uma coisa mental".

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Descasamentar



















Como todos nós sabemos, a mulher ideal é aquela que tem uma costela a menos.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Mau é.



































































Mau é não haver respeito por aquilo que não percebemos.
Mau é não ter noção de que nem todas as civilizações são tão tolerantes à ridicularização como a nossa.
Mau é que se quebre uma regra tão básica como a de desrespeitar a liberdade alheia e depois exigir que se repeite a nossa.
Mau é gritar pela liberdade de expressão e não saber lidar com a liberdade dos gritos de expressão.
Mau é queixarmo-nos que uns simples desenhos xenófobos que condenam toda uma civilização se podem transformar em incêndios de embaixadas.
Mau é ter um péssimo timing.
Mau é estarmos já numa geração que não conheceu o terror da última grande guerra e que espera ansiosamente por outra de tanto ou mais impacto que marque a sua existência.
Mau é eu poder começar uma guerra por publicar estas imagens. Outras houve que começaram por muito menos...

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Faleceu Seth Fisher



















Não costumo reagir a notícias destas com esta emoção. Primeiro porque a pessoa é, na minha realidade, uma mera figura platónica. Segundo porque é alguém que nunca vi e que apenas conheci através dos seus trabalhos. E terceiro porque, apesar de apreciar, nunca acompanhei com grande atenção o seu percurso como artista. No entanto, não posso deixar de me sentir angustiado por saber que alguém com pouco mais de 30 anos de idade e este talento morre repentinamente sem razão aparente.
A sua capacidade gráfica era incrivelmente diferente e complexa, e só uma mente diferente e complexa poderia chegar a este nível de imaginário distorcido, detalhado e incrivelmente delicioso.
Aqui fica a minha homenagem a um homem que nunca conheci, não pelo ímpeto de "dizer bem do artista agora que já está morto", mas porque este artista não viveu tempo suficiente para que se fizessem todas as homenagens.


quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Nervos















A porta da rua custa a abrir.
As luvas nas mãos transpiradas escorregam na maçaneta polida e puxam o lustro ao objecto redondo banhado a ouro. Estou demasiado entusiasmado para perder tempo com objectos inanimados.
Seguro a peça esférica com as duas mãos e cerro os dentes. A porta permanece imóvel. Através do vidro vejo que neva lá fora. Nunca nevara nesta altura, nesta cidade. As ruas inundadas de pessoas que parecem agradecer aos céus mais esta dádiva, que apenas faz frio. A porta agita-se com uma bola de neve que embate junto à fechadura, ressaltando pequenos flocos brancos para as minhas botas negras. Foi o pequeno Tomás da casa em frente. Ele e o seu irmão mais novo riem como nunca os vi rir num dia de sol. O interior da fechadura começa a derreter e a água escorre pela pintura que já estalara de manhã. Terei de dar outra demão. Aperto as mãos com mais força e ralho com a maçaneta. Uma das unhas crava-se no dedo mindinho oposto. Ouvem-se gargalhadas vindas da rua. O sol parece reaparecer. O meu cachecol começa a ficar desconfortável com a transpiração que cai do cabelo encafuado no gorro feito à mão pela minha tia-avó num feriado nacional há quase dez anos. O sol sai forte por detrás das nuvens e começa a transformar os amontoados de neve em pequenos rios que escorrem para as sarjetas. Possuído pela cólera, pego no trenó do meu filho e lanço-o contra a merda da porta. Oiço um estalo e vejo que foi o trenó que se partiu. A porta permanece fechada. Sento-me no chão e choro. O sol já vai alto. A neve já não existe. As pessoas voltaram para casa e os carros voltaram para a rua. O meu filho vem ter comigo. Digo-lhe que esteve a nevar enquanto ele esteve a dormir. Queria-lhe fazer uma surpresa. Levá-lo a ver a neve que ele nunca viu. Deslizar no branco vindo do céu. Mas que agora já não há. Que agora só há água porque o sol já derreteu. Ele olha para mim em silêncio. Nos seus olhos começa a chover. Desliga o olhar e foge de mim a correr. Vai a gritar para os braços da mãe. Permaneço no chão junto à porta morta. Um trenó partido. Uma porta fechada. Um par de luvas húmidas. Um filho ausente… e uma unha encravada.
Odeio o Inverno.