Nos últimos dias visitei dois mundos. Um de rapazes, outro de raparigas. Foram dois mundos que não me agitaram, mas que foram crescendo na minha memória à medida que me fui afastando deles. Mas foram dois filmes que me fizeram crer que em livro serão muito melhores. Isto porque tudo o que nos poderia surpreender, fazer pensar, fazer sonhar, está nas entrelinhas, nos silêncios, nas contemplações. A evolução dos personagens passa por resoluções de questões internas, de supressão da própria realidade, o que não joga muito bem com o conceito de filme, mesmo com recurso a narrador presente e subjetivo.
O primeiro, das meninas, tocou-me apenas ligeiramente, deixando pequenos fragmentos espalhados pela minha mente. No seu todo pareceu-me demasiado volátil, sem grande consistência e, por vezes, um pouco mal amanhado em termos de realização. É engraçado acompanhar as deambulações de uma mulher perdida no mundo, à medida que vai interiorizando o seu lugar em diversas civilizações, em diversas relações e em diversos caminhos, mas o sumo que resulta daquele muesli cultural e sentimental, não é suficiente para nos dar asas, nem revitalizar corpo e mente.
Do mundo dos rapazes saí decepcionado. Saí decepcionado por ter sido enganado. Fui enganado porque li ou vi um resumo sobre o filme que não correspondia à verdade. O próprio cartaz promete demasiado. Essa decepção, aliada às vizinhas que insistiam em demonstrar alto e bom som a pena que sentiam pela personagem do Clive Owen, fez-me passar ao lado de um filme que, a espaços, poderia ter sido mais importante do que acabou por ser. Este é um filme sobre homens. Não sobre gajos. Homens em diferentes estados da vida. Com diferentes estados de alma e que têm de aprender (a palavra fulcral!) a viver sozinhos por imposição da vida, ou aliás, da morte. Isolados do mundo, numa terra venenosa, controem um novo conceito de família, de pedagogia, de amizade, de amor e de vivência que nenhuma mulher consegue compreender. Mas, mais uma vez, este filme baseia-se num livro que deverá ser muito mais profundo e interessante.
Valem as bandas sonoras. Para as meninas, o Eddie Vedder. Para os meninos, os Sigur Rós. Duas formas sonoras de contemplar a solidão, o tempo e o espaço que traduzem em sons e versos aquilo que nos livros é dito em mil palavras.
3 comentários:
Estive tão concentrada a ler o teu blogue durante 10 minutos que, ao passar para o illustrator, comecei a ver tudo em negativo.
Isto não só é um elogio à escrita, como também a constatação de que não preciso de psicotrópicos para tripar.
Obrigada, Rui, obrigada.
Ou então foi a combustão cromática das letras brancas sobre fundo azul... :)
Tanx, cat.
Foi tudo, Rui, foi tudo muito intenso.
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