quarta-feira, outubro 20, 2010

Lunch box...


Nos dias úteis vou almoçar a um restaurante onde sou servido pela minha "avó". O restaurante self-service, daqueles que delizamos com um tabuleiro pelas várias partes de uma refeição, tem uma senhora a servir as comidas quentes que enche pratos sem meias medidas. Os pratos, que na verdade são pequenas travessas, são subjugados por enormes quantidades de alimentos, sejam eles quais forem. Quanto mais melhor. E não implica que só comamos uma variedade. Se quisermos, podemos misturar carne com peixe, batatas com arroz e migas e tudo e tudo para encher o bandulho. Normalmente tenho de dizer para parar, senão tenho receio da frágil madeira do tabuleiro não conseguir aguentar com tal enfardamento no prato, quando tentar chegar à mesa. Mas foi nessa limitação que percebi que estava de volta à casa da minha avó. Quando disse pela primeira vez "Pronto, está bom, não precisa pôr mais" levei com um olhar daqueles que levava quando pastelava as comidas da D. Fernanda. "O quê, só três bifes? Não comeste nada ainda. Vá que a avó vai-te fazer mais um bife e mais uma batatinhas." - "Mas vó, eu já comi sopa." - "Sim, mas a sopa comes sempre." E depois passava a tarde sem me conseguir levantar do sofá. O que vale é que o meu metabolismo sempre foi mais ou menos acelerado.
Mas o que me fez recordar tudo isto, foi algo que aconteceu um destes dias. Cheguei para almoçar, peguei num tabuleiro e dirigi-me à vitrine onde estavam os pratos quentes. A senhora, sempre com cara de poucos amigos, perguntou o que eu queria. Eu, tendo de escolher entre bacalhau com natas, bacalhau à brás, moelas e chocos com ervilhas, apontei para o último. Havia o suficiente para duas pessoas. Mas, depois de remexer com a colher no recepiente metálico, a senhor achou que era pouco e foi à cozinha perguntar se havia mais. Disseram-lhe que não. Então, inconformada, voltou para junto de mim a dizer "Olhe, não há mais, só há isto. Se quiser pode misturar com outra coisa qualquer." Eu, vendo que aquilo era mais que suficiente, disse "Pode ser isso. Para mim está bom." Então, a avó, começou a encher o prato e, à medida que o fundo ia desaparecendo e os chocos, as ervilhas, as cenouras e os choriços se iam amontoando, com o molho quase a sair por fora, foi dizendo. "Olhe que isto é pouco. Vou-lhe pôr um bocadinho de arroz também e, se ficar com fome, volte cá que eu encho-lhe o prato com aquilo que quiser." Claro que eu iria ficar cheio de fome depois daquela pratada... ainda por cima com mais uma taça cheia de uvas para comer.
E, como é óbvio, isto não aconteceu num restaurante de uma grande metrópole.

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