quarta-feira, agosto 10, 2011

A-gosto...

10 dias de férias e ainda sem sinal de praia. Este ano, "a minha praia" é mesmo montar. Montar móveis e fazer arrumações. Nestes dias tenho tentado compensar as exigências de mestre de obras com as de intelectualóide em curtos espaços de tempo, com noites longas e dias curtos. Ainda assim, tem-me sabido bem. Também não sou daqueles anfíbios que só estão bem com um pé dentro de água e outro em terra firme. Gosto de areia na virilha q.b. Está-me a saber bem rechear uma casa do nada, adquirir uma nova rotina, congeminar novos espaços e germinar novas ideias. Gosto da ideia de transformar um espaço frio numa casa acolhedora. Para mim e para os outros.
O tempo para escritas e leituras, sem as horas estirado ao sol, também são escassas. Daí as noites longas. Entre essas leituras, uma das novidades deste querido mês de agosto com abruptas variações climáticas foi uma publicação que captou a minha atenção, não só pelas pessoas que participam nela, mas sobretudo pelo conceito em que se baseia: devolver a escrita ao papel. Torná-la inflamável, como diz na capa. Transportar as ideias que se disseminam em blogs, sem pressas, sem edição, sem barreiras, para um suporte físico, palpável, real. Essa publicação chama-se The Printed Blog (versão portuguesa).

Esta revista surge provavelmente na melhor altura do ano para ser lançada, o que só por si já demonstra alguma astúcia editorial. Os textos curtos e feitos de pensamentos expontâneos são a receita certa para uma leitura de Verão. Uma leitura onde se entra a-gosto. Ao ler os textos fiquei com uma vontade de contribuir para este restrito fórum de ideias, não fosse eu um ávido entusiasta de novos projectos, sejam eles quais forem. Mas quando chegou o momento de sugerir o meu blog, inevitavelmente comecei a refletir acerca da relevância de um blog. Qual a relevância do meu blog? Qual a relevância de um blog que não fala de política, que não fala da atualidade, que não acompanha a par e passo os maiores virtuosismos culturais? Qual a relevância de um blog sem temática concreta, que mais se assemelha a um mero diário de páginas soltas, que vai do mais enigmático ao mais explícito, que vai do mais pessoal ao mais histriónico, que vai do mais opinativo e crítico ao mais inconsequente, que vai do mais pragmático ao mais fantasioso, e que não tem legiões de seguidores, que não é opinion maker, que não é líder no google e que tem como autor um gato preto (cruzes credo!) com problemas sérios de curiosidade aguda (e a curiosidade, como se sabe, não é a melhor amiga dos gatos)? Ao pensar nisto, conclui que os meus textos talvez não importem a pessoas descontextualizadas de todas estas ambivalências de pensamento e escrita. Provavelmente este blog já é inflamável no sítio onde está. Porque, como é sabido, gato escaldado de água fria tem medo.

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