"Os homens têm segredos mas não têm mistérios..."
Fui ver este filme porque acabei de ler este livro. A curiosidade estava inflamada e, como se diz, o saber não ocupa lugar. Foi importante ler o livro antes de ver o filme (apesar de não haver ligação intrínseca entre eles), porque ajudou-me a perceber melhor o contexto social e temporal. Ambos remetem para o fim do século XIX, um em Portugal, outro em França, apesar do livro também mencionar a contemporaneidade parisiense.
Apesar de ser bom, "L'Apollonide - Memórias de um Bordel" podia muito bem ter menos 1 hora. O título em português é enganador, no sentido em que esta história é pura ficção e não baseada em memórias. Escrito pelo realizador Bertrand Bonello (que já fez vários filmes sobre a temática do sexo e da pornografia), ele descreve-o da seguinte forma: "Em geral, os pintores e escritores desta época vão aos bordéis e dão o ponto de vista masculino sobre as prostitutas, mas o que me interessava era o olhar das mulheres sobre os homens que as visitavam. Quis mostrar a decadência, o inelutável fim desse mundo". E é sem dúvida essa a mais-valia do filme. Com alguns toques capazes de fazer David Lynch ter ligeiras intumescência, o filme ganha pelo bom gosto das cenas, pela banda sonora (do século XX, descontextualizada, como já tinha sido testado pela Sofia Coppola em "Marie Antoinette"), pelos diálogos e surpreende pela história, por vezes serena, outras vezes assaz chocante. Daqueles filmes que não se voltam a ver, mas são dignos de se ver pelo menos uma vez.
in "Os bons velhos tempos da prostituição em Portugal", Alfredo Amorim Pessoa, 1887
2 comentários:
intressante este texto de Alfredo Pessoa (que nao conhecia). Esta tematica intressa me muito, penso muito na prostituição, sem critica facil e sem julgamento. Intressa me a sua existencia, a sua motivação. Nao a dos homens que procuram as mulheres, mas a das mulheres .. Será que é apenas necessidade? As x questiono me: será que é preferivel trabalhar 2 horas por dia no elefante branco ou 16 numa caixa do pingo doce? sera que é assim tao mau poder escolher (eu sei que 99% nao podem, mas se eu fosse prostituta seria das que escolhem ;) o homem com quem vamos estar e ir para um hotel com ele? ou será que ja esta tudo tao confuso e tao esbatido que ja nao conseguimos distinguir o sagrado do profano? E sera que isso ainda existe? sagrado? alguma coisa nos dias de hoje é sagrada? ou estamos tao longe de tudo oq ue é "vida" que ja nao vemos nada como "unico"?
dá que pensar .....
xxx niki
Dá muito que pensar, mas como em todas as profissões, também na prostituição existem hierarquias. Desde as "caixas de supermercado" (que não se podem dar ao luxo de escolher os clientes), até às "gerentes do supermercado" (que não só escolhem os clientes, como são elas que determinam tudo o que pretendem fazer com eles. Daí serem chamadas de "profissionais de luxo"). Mas sim, este é daqueles temas que dão muitos livros e muitas horas de conversa...
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