Desde pequeno que considero os livros do Corto Maltese como uma versão mais cool do National Geographic. E por muito que eu gostasse que fossem mais do que isso, é apenas isso que continuam a ser. Os livros do Corto ganham pelas primeiras páginas, pela história dentro da história, pela pesquisa, pela percepção que houve ali um interesse em fazer algo que fosse mais do que apenas contar uma aventura de um marinheiro armado ao pintarelho. Só que a fama dos álbuns do Corto é sem dúvida muito superior ao proveito. A poética, a nostalgia e a fantasia que nos vêm à cabeça quando ouvimos falar das histórias do Corto Maltese não se reflete de forma minimamente nas histórias propriamente ditas. Os diálogos sempre foram inconsistentes (ainda mais depois de traduzidos), as sequências sempre foram dignas de sonhos mirambolantes de pessoas alcoolizadas e os enredos nunca tiveram uma finalidade ou um propósito que nos fizessem pensar ou reflectir sobre algo. Onde as histórias do Corto ganham é nas referências históricas, nas frases poéticas ditas por razão nenhuma e pelo marinheiro armado ao pintarelho com as meninas que vai encontrando nas zonas mais inóspitas e recondidas do planeta. Fora isso, é um vazio e uma aleatoriedade que chegam a provocar uma ligeira urticária na planta do pé (isto é um exemplo de uma frasea aleatória que poderia aparecer num diálogo do Corto).
Por muito que goste do personagem (que, reflexo da sua própria casualidade, se tornou famoso por mero acaso, já que começou por ser apenas uma personagem secundária no livro "A Balada do Mar Salgado") não consegui ficar tão fã como gostaria.
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