quarta-feira, janeiro 12, 2011

Consistência...


Há mulheres que são inevitavelmente desejadas. Há mulheres que são desejadas no momento em que entram numa sala. Há muitas mulheres bonitas, mas não é dessas que falo, apesar da maior parte das mulheres desejadas serem bonitas. Falo das mulheres que atraem o desejo dos outros (homens e/ou mulheres) só pelo brilho que têm, pela aura, pela presença, por uma simples benece natural. Há mulheres que se apercebem disso e são raras as que tentam ocultá-lo. Há outras que, por não se aperceberem disso, acabam por ainda ser ainda mais especiais e complicar mais as coisas para elas e para os homens que as rodeiam. As mulheres que têm esse dom e que não se apercebem, correm o risco de serem mal interpretadas, isto porque, não se apercebendo do seu impacto, e ao darem um pouco mais da sua disponibilidade, da sua simpatia e até da sua intimidade, podem ser vistas como alguém que está a retribuir o desejo que lhe é inevitavelmente atribuído. Isso cria complicações a nível emocional, relacional e até no seu quotidiano pessoal e profissional. Porque as mulheres inevitavelmente desejadas, são-no todos os dias, faça chuva ou faça sol.
É por isso, por saber que essas mulheres existem, que nunca quis ter uma relação com nenhuma. Não tenho autoconfiança suficiente em mim próprio para partilhar o espaço com alguém que é constantemente alvo de desejo, assédio, fantasias e afins. Não que tenha nada contra isso, mas prefiro estar com alguém que convoque o desejo dos outros do que com alguém que o provoque inevitavelmente. Prefiro alguém que seja bonita (e por isso não as quis misturar com as desejáveis) mas que seja subtil, discreta, que seja atraente sem ofuscar ninguém e que, acima de tudo, desperte a curiosidade (sem revelar tudo de uma vez só).
Dei-me conta desta ilação quando estava ainda na adolescência. Não invejava os "bad boys" que namoravam com as miúdas mais giras porque a minha baixa autoestima sempre me fez crer que eu não seria capaz de igualar o estatuto quase divinal de tais raparigas para manter uma relação com alguém que desse muito nas vistas. Não que eu fosse ciumento ou possessivo. Nunca tive esse sentimento em relação a nada. Simplesmente nunca gostei de ostentar riqueza. Se há futilidade em algumas mulheres, esta é, para mim, a suprema futilidade dos homens. Naquela altura, namorar significava apenas uma coisa: ter paciência para aturar a namorada. E eu não tinha. Os "bad boys" também não (e tratavam-nas mal) mas isso parecia chatear-me mais a mim do que a elas. Eu não teria feitio para tratar mal ninguém só para dizer que andava com uma miúda gira. Por isso passei simplesmente a "curtir" com as raparigas que me atraíam fisicamente e a criar grandes amizades com as raparigas que me despertavam curiosidade intelectual, sem namorar com ninguém. Foi aí que percebi que começava a surgir em mim um medo de assumir relações com mulheres demasiado espampanantes. Mas penso que isto acontece com a maioria dos homens. Todos gostam de ver carros desportivos nas revistas, mas a maior parte sabe que se guiasse um, certamente iria enfiar-se na primeira árvore. O mesmo acontece com as mulheres das revistas e do cinema. Todos as veneram, mas muitos poucos as suportariam por mais de dois dias. Eu não conseguiria porque, a partir do momento em que a imagem perfeita se dissipasse, não restaria nada, nem a curiosidade.
Este entrelaçado de observações e psicanálise, surgiu na sequência de um dos programas "O amor é", do Prof. Julio Machado Vaz, na Antena 1. O tema era o crescente número de mulheres divorciadas e a interlocutora mencionou o facto de, antigamente, os casamentos serem arranjados pelos pais (como ainda acontece em algumas culturas). Dizia ele: "Minha cara, tocou num ponto fundamental. Eu compreendo os divórcios, até porque eu próprio sou divorciado, mas antes os casamentos duravam porque eram baseados num contrato, numa intenção assumida de juntar duas famílias, fosse por interesse financeiro ou outro interesse qualquer. Esse era o ponto de partida e havia muito respeito por essa decisão. Depois, se o casal se desse bem, melhor ainda. Se não se desse bem, teriam de resolver as suas questões de forma a conseguirem conviver um com o outro até ao fim dos seus dias. Actualmente casa-se por amor. É algo muito mais subjetivo e volátil. Porque assim que se pensa que o amor acabou, por uma situação ou outra, é muito fácil acabar-se com qualquer casamento."
Curiosidade, desejo, sexo, amor. Tudo isto me fez pensar na consistência dos sentimentos...

5 comentários:

Jo disse...

mais vale não pensar muito...

Catarina Vieira disse...

A consistência dos sentimentos tem muito a ver com a consistência das pessoas. E ainda há o medo. O preconceito da solidão como falha social e incapacidade pessoal (ou vice-versa) alavanca muitos casamentos. Dizem que é amor, mas é condição.

("a suprema futilidade dos homens": acho óptimo :))

Mári len disse...

se calhar sou uma romantica, mas no dia que bater, nem vais ter noçao, isso porque tenho a minha teoria do bam!!!!:)
mas sim numa coisa que vai evoluindo podes usar essa defesa!:)
Nao tua teoria automovel da cena, eu costumo dizer que todos gostam de carros deportivos, mas os monovolumes sao mais seguros!porque por incrivel que pareça os homens tambem procuram segurança e dependencia numa "ralaçao"!:)

El Felino disse...

Eu também acredito na teoria do "big-bam", mas a minha dissertação prende-se mais com a diferença entre os que acreditam na "criação do homem" ou na "evolução das espécies". E no que respeita aos sentimentos, eu sou um Darwinista. ;)

Alexandr3 disse...

Quanto aos divórcios a explicação é simples e não tem a ver com contratos ou amor.

Hoje em dia com a igualdade entre sexos as mulheres sentem-se na mesma posição que os homens. Têm emprego, carreira, não têm receio de estar ou ficar sozinhas, de ter uma casa só delas, da forma como são olhadas pela sociedade. Enfim, com a emancipação da mulher vieram os divórcios "facilitados".
Claro que a falta de amor que leva aos divórcios também é uma causa, mas também o facilitismo e consumismo da época em que vivemos explica isso. Consumiu-se, deitou-se fora, arranja-se outra.

Acho é que a questão das mulheres bonitas-ou-atraentes-ou-inteligentes-ou misteriosas-ou-intelectuais não tem nada a ver com divórcios. A integridade de uma pessoa não tem a ver com a sua beleza.