quarta-feira, fevereiro 16, 2011

"Live a little"...


(Atenção: BIG SPOILER!)
Antes mais, este poster é genial.
Depois, que bem que me soube não ter visto o trailer deste filme. É bom ser surpreendido. Acho que mesmo as pessoas que conhecem a história do "Lago dos Cisnes" de trás para a frente conseguem ser surpreendidas por este filme. Não pelo final, que toda a gente já desconfia desde o início, mas o percurso que nos leva ao final. Depois do primeiro "Requiem for a dream" (bom, mas sem ser surpreendente) e da ligeira loucura que foi "The Fountain", o realizador Aronofsky já tinha mostrado que sabe contar histórias "gritty" no seu filme anterior "The Wrestler" (o que me faz ter grandes esperanças para o seu próximo filme sobre a personagem mais "gritty" da BD, "The Wolverine"). Mas voltando ao "Black Swan", este filme faz-nos sentir como um peixe num anzol. Agarra-nos de uma forma dolorosa e não nos larga. Desde as personagens até à forma como é filmado, tudo nos puxa para o abismo, na extraordinária companhia da Natalie Portman (que merece o Óscar só por causa da cena em que decide "viver um pouco"... muito ajudada pela realização!). Das coisas boas do filme (para além da Natalie e da Mila), aquilo que mais gostei foi do som (que nem sequer foi nomeado para o Óscar... mas o que é que eu percebo disto?). Os detalhes sonoros são de um requinte que sustentam a malvadez como eu nunca tinha apreciado antes num filme. Para isso, muito ajudou o sistema surround do cinema do Campo Pequeno. Muito bom. Outro detalhe que me ia tirando o sono, foi ter percebido que pelo menos em duas cenas o efeito de espelho foi aplicado na realidade. Primeiro na cena em que elas estão no bar e a Mila passa para o lado esquerdo da Natalie. Mas depois toda a cena é filmada como se a Mila estivesse do lado direito. A outra cena foi quando a Natalie desce as escadas para falar com o Vicent Cassel. Quando ela o apanha, ele prepara-se para descer as escadas do lado direito, mas quando a cena acaba, ele desce as escadas do lado esquerdo. Se eu não estiver todo baralhado, foi um toque muito cool, porque o filme joga de uma forma brilhante (sem ser exagerada) com a questão dos reflexos.
As minhas ilações do filme:
- O "verdadeiro" cisne negro é a mãe da Natalie. É desse legado que vem o seu lado negro. (a eterna questão da importância das mães no desenvolvimento emocional das filhas - a cena do bolo é excepcional)
- A Mila é a personificação daquilo que o lado negro da Natalie deseja ser/ter, enquanto a Winona é a personificação do lado branco. Quando a Winona se autodestrói, o lado bom da Natalie também se destrói e dá espaço para o lado negro se libertar. (a eterna questão da inveja e do desejo entre as mulheres)
- A transformação física da Natalie é uma alucinação da sua transformação mental. (a eterna questão da mente feminina muitas vezes deturpar a realidade - ex. mulheres magras que acham que são gordas)
- As feridas nas costas é o lado negro a querer libertar-se de um corpo/mente altamente condicionados. Coçar é um acto instintivo, sem controlo racional. Curiosamente, o acto final de libertação não implica coçar, mas implica tocar com os dedos. (a eterna questão da batalha entre o instinto e a racionalidade feminina, complementada com a resistência à exploração íntima da sua sexualidade)
- Os quadros que a mãe faz são a representação da incessante procura da perfeição de ambas. (a eterna questão das mães que desejam ver-se reflectidas nas filhas, seja a nível físico, emociocional, profissional ou outros)
Resumindo, acho que o intuito deste filme foi evidenciar o conceito da ambiguidade feminina. Todas as mulheres têm um lado "negro" e um lado "branco" (pelo menos!). Algumas escolhem esconder um dos lados para assim conseguirem controlar melhor o equilíbrio das suas vidas. Neste caso, explora-se a descoberta do lado negro, mas há também as mulheres que têm dificuldade em descobrir o seu lado branco, como as mulheres que têm medo de assumir relações, de se deixar amar, de se deixar levar emocionalmente, de querer ter filhos, de envelhecer, de viverem sem o desejo sexual dos homens, etc, etc. Essa é a luta eterna das mulheres. Conseguirem abraçar todos os lados da sua complexidade interior. E este é um filme que nos faz pensar um pouco sobre essa questão, apesar de ter sido escrito e realizado por quatro homens. Mas quem melhor que os homens para provocar na mulher a urgência de libertar o seu lado secreto?... Talvez outra mulher?
Em conclusão, o filme é mesmo muito bom, mas não era preciso pregar tantos sustos para manter a intensidade. Esse recurso demonstra algumas limitações do realizador.
No entanto, acho que vou beber um shot quando anunciarem o Óscar para melhor actriz...

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que já tinha visto o filme, por isso li tudo até ao fim ;o) Depois de o ter visto, saí da sala de cinema e acho que só me lembrei de que estava a respirar quando já ia a meio caminho de casa. Não vi os outros, mas por mim esta menina feita mulher levava o oscar para casa.
Mara

Frederico disse...

aí está... Laura pra menina e... Lauro António pra menino! Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!

Mári len disse...

Para além de beber o shot QUE A MENINA MERECE!!
parece q já n tenho de ver o filme outravez para confirmar os tais reflexos!:) está genial!
e também gostei do modo como está filmado quando ela anda de uma lado para o outro e somos transportados daqui para ali, como se estivessemos a correr atrás dela!:)
como alguém escreveu por aí "a perfeição é a morte"!:)e prontus ainda bem q n li o post ontem!!