segunda-feira, dezembro 05, 2011

Casablanca (ou quando Lisboa era o centro do mundo)...















Mais do que um grande filme, este é um filme importante. É um grande filme pela estória, mas é importante pela história. É grande pelo texto, mas é importante pelo contexto. É grande pelas imagens, mas é importante pelas mensagens. É grande pelo todo, mas é importante pelos detalhes.
"Casablanca" era um daqueles filmes que pairava há algum tempo na minha vida, comigo sempre a evitá-lo por causa do timming. Às vezes não me apetece ver filmes de época fora de época. Outras vezes é só isso que me apetece. Mas a maior parte do tempo, evito. Prefiro ver as épocas nas épocas e perceber em que contexto se insere determinada obra. No entanto, este é um filme sobre uma época, feito numa época diferente daquela a que se refere. E foi esta mnemónica que me levou a sucumbir à sua sedução.
À primeira vista era um filme para adormecer antes do genérico inicial acabar, mas provou-se o contrário. O ritmo das cenas e dos diálogos não deixa ninguém dormir. Logo no início, a contextualização do mundo em plena Segunda Guerra, quase que nos faz sentir que a qualquer momento a nossa casa pode ser sobrevoada por aviões aliados ou invasores. Se há filme que nos leva para lá do ecrã, este é um desses filmes. O argumento é brilhante. Não só por toda a construção narrativa, mas pelos diálogos que, curiosamente, só um canastrão como o Humphrey Bogart poderia dizer da forma que tais palavras exigiam.
Seco e sem entoação, as frases "à pintas" ficam bem até num homem de smoking. Quanto à Ingrid Bergman, era muito interessante, mas de certeza que estava longe de ser "a mulher mais bela que já alguma vez esteve em Casablanca", como o outro "pintas" do chefe da Polícia chega a dizer.
Mas outro detalhe que marca é a música. Esta:

Mas ainda melhor do que a música, é como ela se descontrói no próprio filme. É tocada 3 vezes e, consoante o momento, é tocada de 3 formas diferentes. É outra coisa magistral neste filme: há muito que se diz sem palavras. Daí o "play it again, Sam." Porque, como a vida ensina, again is never the same.
Quanto ao romance, achei que é a única coisa que acaba por ser prejudicada pelo ritmo do filme. Não dá tempo para sentir que a paixão seja tão arrebatadora como as palavras que a reflectem. O que faz com que a cena final perca um bocado da grandeza que merecia. Talvez aqui a época tenha pesado um pouco. Talvez na época o romance parecesse mais intenso.
Por fim, Lisboa. Quando actualmente vivemos numa época em que Lisboa é o lugar de onde devemos fugir, neste filme Lisboa é o lugar com que toda a gente sonha. Não como destino, claro, mas como um lugar onde todos os sonhos passam a ser possíveis. Todos dão tudo por chegar a Lisboa. Em Casablanca, Lisboa é o sonho real, apesar de, no sonho da memória, os amantes terem sempre Paris...

Sem comentários: