quinta-feira, março 23, 2006
Blackjack!
No caso da luta livre mexicana, os heróis de luta livre são ainda mais emblemáticos porque recorrem a máscaras (tão caraterísticas das antigas civilizações da América do Sul) que enfatizam o lado misterioso, mágico e até mesmo "divino" dos atletas, deixando de ser meras pessoas para se tornarem deuses aos olhos dos espectadores (que assim não sabem que, na realidade, o atleta que tanto admiram e que faz acrobacias incríveis, pode ser o padeiro da loja da esquina - já que, no México, o que os lutadores ganham não é muito dinheiro (como na América), mas sim muito respeito e admiração).
Assim, é com o coração quentinho que olho para o cartaz e para o trailer do filme e me rio a bandeiras despregadas, com admiração e encantamento por este mundo que, definitivamente, não é para todos. E apesar de não ser o primeiro filme sobre luta livre é, sem dúvida, o que tem o melhor "lutador": Jack Black!
NAAACCCCHHHHHOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!
segunda-feira, março 20, 2006
Debaixo dos...
Normalmente, as autobiografias (ficcionadas ou não) chateiam-me. Há qualquer coisa na palavra "auto" que me bloqueia a vontade de ler a biografia. Parece que algo ja está minado à partida e que o autor ou vai evidenciar as suas qualidades para parecer mais capaz do que realmente é, ou vai evidenciar os seus defeitos para produzir o efeito mártir que o consagrará como um herói.
Neste caso, apesar de suspeitar que esta história iria ser mais uma daquelas lamechisses pegadas de tentar arrancar lágrimas à força, decidi comprar o livro, não só pela sua qualidade gráfica, mas pelo interesse inédito que a minha namorada demonstrou por um livro de BD (a importância de partilhar um prazer com a pessoa que amamos é sempre superior a qualquer filosofia). E como devia ser regra em todos os belos gestos que fazemos na vida, este revelou-se compensador.
Depois de ler as mais de 500 páginas "autobiográficas", tenho a dizer que este livro é mesmo bom. Para quem gosta de BD esta graphic novel não é só uma referência em termos técnicos mas principalmente em termos narrativos. E com um sinal à porta que diz: "A lamechisse não entra aqui!". Apesar do autor ainda estar na casa dos 30 anos, esta é uma história privada que vai às profundezas do espírito humano e revela todo o espectro de emoções que definem uma pessoa. Da maldade à amizade, da vergonha à paixão, do medo aterrador ao amor profundo. E realçando esses sentimentos não só pela qualidade das palavras mas também pela qualidade do desenho, como a boa BD deve ser. Desde os traços mais violentos e negros, às forma mais delicadas e quase vazias, este livro é um poço de sentimentos e emoções. E um poço ao qual se consegue ver o fundo, tal é a força da luz.
Este é um retalho de uma vida que ainda vai a meio e que nada tem de extraordinária, mas que devido ao potencial criativo do seu autor e actor principal é um excelente exemplo de "auto"análise, "auto"disciplina e "auto"cumplicidade.
Este é um livro que exige coragem para ser comprado, mas oferece a melhor recompensa que um livro pode dar: um prazer de leitura que permanece na nossa memória, muito depois de virarmos a última página.
sexta-feira, março 17, 2006
Receita da manhã...
VS
Há dias em que as notícias são tão poucas que tem que se inventar algo para dizer. Hoje, definitivamente, não é um desses dias! Na capa do jornal Destak vem a surpreendente notícia de que a Kate Moss comprou um vibrador revestido a ouro de 24 quilates.
E nós a pensar que a Filipa Vacondeus era maluca!...
quinta-feira, março 16, 2006
A poesia da loucura...
António Luís Valente Gancho nasceu em Évora em 1940 e desde os 20 anos que correu várias instituições psiquiátricas. Dizia ser Luiz Vaz de Camões, Bocage, Kafka, Pessoa e todos os escritores que admirava. Dizia ainda que não sabia por que escrevia, que o escritor "só pode ser escritor quando já nasceu escritor" e que "a imaginação é tudo. É ela que deve estar ao comando da inspiração, quero dizer, a inspiraçao deve comandar a imaginação do autor, do escritor, do poeta." (in A Phala, n.º45).
Na minha juventude, quando as ideias e os ideais parecem brotar de cada mudança de tempo, de cada sopro do vento ou de cada nova paixão, pertenci a um grupo de precoces artistas de áreas como o teatro, a dança, a música, a literatura e até mesmo o design, que se auto-intitulavam percursores de um movimento artístico donominado por Dementismo. Exaltavamos a Loucura como ímpeto criativo e chegámos mesmo a criar um Manifesto onde racionalizavamos acerca dessa nossa insanidade. Com tal entusiasmo, realizámos uma apresentação ao vivo das nossas ideias com uma pequena representação que nos encheu o ego mas que acabou por nos devolver à realidade inteligente, causando a separação após concretizado o objectivo e deixando cristalizado no tempo aquele breve momento em que todos julgavamos ser os donos da loucura.
No dia 1 de Janeiro de 2006 faleceu António Gancho, um homem das letras que levou as letras onde elas menos gostam de ser levadas: ao cataclismo da desordem racional. Descobrir este autor, que eu desconhecia até ler um breve artigo sobre ele na revista "Os Meus Livros" (que tem uma característica diferente de todas as outras revistas sobre literatura: evolui), fez-me recordar essa minha breve experiência existencial. No entanto, fez-me também pensar acerca da origem da loucura em si, naquilo que faz de um homem um poeta, um racionalista das letras, mesmo depois de viver quarenta anos embutido na loucura de um hospital, onde todos são loucos até prova do contrário.
quarta-feira, março 15, 2006
Enquanto as novelas se consomem entre si...
Casanova
"A vida do mais notável sedutor de todos os tempos numa fantástica série de época."
Antes de mais tenho de afirmar uma coisa: a série "Bocage", que passou à pouco tempo na RTP 1, foi uma série excelente, com um argumento de grande qualidade e interpretações credíveis de todos os actores, o que me faz ainda ter alguma esperança no futuro da ficção nacional. Depois dos terríveis erros de casting da série "Pedro e Inês", este foi o exemplo de série à qual muitos argumentistas, produtores, actores e realizadores (os realizadores nem tanto...) portugueses devem aspirar, apesar das dificuldades que se sabe existirem no processo de transposição do papel para o ecrã, que interferiram (e muito) na continuidade narrativa da série. Mesmo com o baixo índice de audiências, é sempre bom ficar com aquele gostinho de que, apesar da série ter sido cancelada, fomos dos poucos portugueses que se deliciaram com uma história sobre um heróis português que desafiou meio mundo em verso, em vez de mais uma das muitas ovelhas que só sabe olhar para a televisão e dizer em voz alta "Esse aí é um cafajeste!".
Dito isto, é impressão minha ou "Casanova" é uma das melhores mini-séries que já passou pela televisão portuguesa? Com uma realização surpreendente, um humor desconcertante e um Casanova com um sorriso Maquiavelico, é quase uma maldade mostrar-se isto quando o filme está quase a estrear nas salas de cinema. Uma maldade que vou ter todo o prazer de voltar a acompanhar hoje à noite, às 23h00, na RTP1. Último episódio!
terça-feira, março 14, 2006
A minha BD!
Pela primeira vez, desde que me conheço como blogger, fui desafiado! O meu caro amigo Pedro Passaporte pede-me para definir os 5 principais traços da minha personalidade enquanto leitor de Comics. Ainda assim, escolho não só dizer como me analiso enquanto leitor de comics, mas também enquanto apaixonado e colaborador nesse magnífico e complexo mundo de arte e comunicação.
1) Desde muito cedo que o mundo das imagens me fascinou. Apesar de nunca ter descoberto em mim a vocação para o desenho ou para qualquer outra vertente artística de carácter visual, sempre fui muito sensível à beleza estética das formas, das cores e da luz. Seduzido pelo grafismo, depressa me iniciei na leitura de histórias ilustradas e, possivelmente, foi essa preferência que facilitou a minha entrada no mundo da banda desenhada. Os meus primeiros livros começaram por ser aqueles herdados dos meus familiares, como o Tintin e o Asterix. Como mais tarde me apercebo, essas histórias serviram não só para desenvolver o meu prazer pela leitura, mas principalmente para me mostrar conceitos que, possivelmente, e devido à minha história familiar, nunca teria conseguido apreender através dos meus pais ou professores. Cada vez que se lê uma história aprende-se qualquer coisa nova, quer seja devido à nossa idade, quer seja por já termos no nosso consciente informação que não tínhamos quando lemos a história pela primeira vez. Mas ainda assim, acredito na educação do nosso inconsciente, e mesmo que nessas primeiras vezes não tenha compreendido tudo o que estava descrito, sei que desenvolvi uma parte importante da minha consciência.
2) Com dez anos de idade, quando passava férias no Algarve, um primo meu deu-me todos os livros de banda desenhada que tinha porque ia mudar de casa e não os queria levar. Foi o meu primeiro contacto com livros de super-heróis. Ele era um grande fã do Capitão América, do Homem-Aranha e do Hulk, e os livros eram as versões brasileiras da Panini que tanto inspiraram toda uma geração nos desvairados anos 80. Fiquei completamente embevecido com aquelas histórias. O que mais me emocionava era que aquelas não eram pessoas que faziam coisas maravilhosas porque eram mágicos ou porque tinham grandes armas, mas sim personagens que tinham sofrido acidentes, que suportavam nas costas uma benção que ao mesmo tempo era uma maldição (uma máxima que desde sempre caracterizou as criações das personagens da Marvel). O exemplo mais acabado dessa máxima era o Homem-Aranha. Já com os dois pés na minha juventude, era importante ver que o Peter Parker tinha problemas com os quais eu me podia identificar. Foi nessa altura da minha vida que um amigo me disse que havia uma loja em Lisboa que vendia comics originais, importados dos E.U.A.. Era uma loja que ficava escondida num centro comercial sinistro, perto do largo do Calvário. Comecei a fazer peregrinações religiosas a esse santuário e a deliciar-me com a quantidade de imaginação que emergia de todas aquelas capas coloridas. Para além disso, o dono da loja era um "monstro" esquisito, cheio de tatuagens e brincos, que falava eloquentemente sobre cada livro, cada autor, cada tema ou cada história, como se aquelas revistas fininhas fossem pequenos tesouros que escondiam maravilhas. E eram.
3) Fui-me apaixonando cada vez mais pela arte (tanto visual como literária) daquele meio tão complexo e, estando já no agrupamento de artes da escola secundária do Lumiar, conheci pessoas que me foram apresentando outras vertentes da BD que eu desconhecia. A BD underground americana, europeia e japonesa foram novas descobertas que me incentivaram ainda mais a descodificar a complexidade desta forma de arte. Foi quando comecei a comprar avidamente livros sobre o ofício da banda desenhada. A partir desse momento, não só comecei a ler BD de forma diferente, como decidi começar a escrever argumentos.
4) Já quando estava na faculdade, e com início do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, decidi começar a participar nos concursos (juntamente com o meu grande amigo e exímio ilustrador, Kimosabe), ganhando finalmente uma Menção Honrosa à segunda ou terceira tentativa. Essa singela distinção deu-me o privilégio de ser contactado pelo editor de BD da revista "Os Fazedores de Letras" para um workshop de BD no FIBDA do ano seguinte. Depois de algumas demonstrações improvisadas na altura, fui convidado a escrever histórias para essa publicação da Faculdade de Letras. Assim, passados alguns anos, orgulho-me de ter três histórias publicadas e de ter participado no nº 0 (de lançamento) da revista "Blast" com outra história (agora com desenhos do Ricardo Cabral. Por falar nisso, o nº1 da revista agora denominada "Blazt" já saiu. Como todos os novos projectos, é uma edição cheia de entusiasmo e, para além de uma história curta mas emocionante do próprio Ricardo Cabral, conta com a participação dos vencedores do FIDBA do ano passado.) Há um ano atrás, participei no excelente curso de Argumento para Banda Desenhada, Ilustração e Animação 2D e 3D do CITEN (Centro de Arte Moderna da Gulbenkian) e fiquei ainda mais imerso nas imensas possibilidades que a BD apresenta, e surpreendido com a sua ligação com o mundo do cinema de animação. A fantasia não tem fim.
5) Agora, desde que trabalho (como redactor publicitário) não tenho tido muito tempo para escrever histórias, mas continuo a tê-las na gaveta. Quanto à leitura de BD, depois de um período em que o dinheiro escasseava, voltei a ter possibilidade de adquirir as fininhas revistas mensais (sim, Pedro, também prefiro as fininhas. Os TPB anulam o impasse do suspense até à chegada do número seguinte). Voltei a apaixonar-me pelas infinitas possibilidades desta realidade que, levada ao extremo, possibilita tudo, e onde a felicidade pode estar escondida no breve espaço entre duas vinhetas.
Era comic a minha corrente continuar por aqui:
De férias...
... mentira, foi aqui!