Pela primeira vez, desde que me conheço como blogger, fui desafiado! O meu caro amigo Pedro Passaporte pede-me para definir os 5 principais traços da minha personalidade enquanto leitor de Comics. Ainda assim, escolho não só dizer como me analiso enquanto leitor de comics, mas também enquanto apaixonado e colaborador nesse magnífico e complexo mundo de arte e comunicação.
1) Desde muito cedo que o mundo das imagens me fascinou. Apesar de nunca ter descoberto em mim a vocação para o desenho ou para qualquer outra vertente artística de carácter visual, sempre fui muito sensível à beleza estética das formas, das cores e da luz. Seduzido pelo grafismo, depressa me iniciei na leitura de histórias ilustradas e, possivelmente, foi essa preferência que facilitou a minha entrada no mundo da banda desenhada. Os meus primeiros livros começaram por ser aqueles herdados dos meus familiares, como o Tintin e o Asterix. Como mais tarde me apercebo, essas histórias serviram não só para desenvolver o meu prazer pela leitura, mas principalmente para me mostrar conceitos que, possivelmente, e devido à minha história familiar, nunca teria conseguido apreender através dos meus pais ou professores. Cada vez que se lê uma história aprende-se qualquer coisa nova, quer seja devido à nossa idade, quer seja por já termos no nosso consciente informação que não tínhamos quando lemos a história pela primeira vez. Mas ainda assim, acredito na educação do nosso inconsciente, e mesmo que nessas primeiras vezes não tenha compreendido tudo o que estava descrito, sei que desenvolvi uma parte importante da minha consciência.
2) Com dez anos de idade, quando passava férias no Algarve, um primo meu deu-me todos os livros de banda desenhada que tinha porque ia mudar de casa e não os queria levar. Foi o meu primeiro contacto com livros de super-heróis. Ele era um grande fã do Capitão América, do Homem-Aranha e do Hulk, e os livros eram as versões brasileiras da Panini que tanto inspiraram toda uma geração nos desvairados anos 80. Fiquei completamente embevecido com aquelas histórias. O que mais me emocionava era que aquelas não eram pessoas que faziam coisas maravilhosas porque eram mágicos ou porque tinham grandes armas, mas sim personagens que tinham sofrido acidentes, que suportavam nas costas uma benção que ao mesmo tempo era uma maldição (uma máxima que desde sempre caracterizou as criações das personagens da Marvel). O exemplo mais acabado dessa máxima era o Homem-Aranha. Já com os dois pés na minha juventude, era importante ver que o Peter Parker tinha problemas com os quais eu me podia identificar. Foi nessa altura da minha vida que um amigo me disse que havia uma loja em Lisboa que vendia comics originais, importados dos E.U.A.. Era uma loja que ficava escondida num centro comercial sinistro, perto do largo do Calvário. Comecei a fazer peregrinações religiosas a esse santuário e a deliciar-me com a quantidade de imaginação que emergia de todas aquelas capas coloridas. Para além disso, o dono da loja era um "monstro" esquisito, cheio de tatuagens e brincos, que falava eloquentemente sobre cada livro, cada autor, cada tema ou cada história, como se aquelas revistas fininhas fossem pequenos tesouros que escondiam maravilhas. E eram.
3) Fui-me apaixonando cada vez mais pela arte (tanto visual como literária) daquele meio tão complexo e, estando já no agrupamento de artes da escola secundária do Lumiar, conheci pessoas que me foram apresentando outras vertentes da BD que eu desconhecia. A BD underground americana, europeia e japonesa foram novas descobertas que me incentivaram ainda mais a descodificar a complexidade desta forma de arte. Foi quando comecei a comprar avidamente livros sobre o ofício da banda desenhada. A partir desse momento, não só comecei a ler BD de forma diferente, como decidi começar a escrever argumentos.
4) Já quando estava na faculdade, e com início do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, decidi começar a participar nos concursos (juntamente com o meu grande amigo e exímio ilustrador, Kimosabe), ganhando finalmente uma Menção Honrosa à segunda ou terceira tentativa. Essa singela distinção deu-me o privilégio de ser contactado pelo editor de BD da revista "Os Fazedores de Letras" para um workshop de BD no FIBDA do ano seguinte. Depois de algumas demonstrações improvisadas na altura, fui convidado a escrever histórias para essa publicação da Faculdade de Letras. Assim, passados alguns anos, orgulho-me de ter três histórias publicadas e de ter participado no nº 0 (de lançamento) da revista "Blast" com outra história (agora com desenhos do Ricardo Cabral. Por falar nisso, o nº1 da revista agora denominada "Blazt" já saiu. Como todos os novos projectos, é uma edição cheia de entusiasmo e, para além de uma história curta mas emocionante do próprio Ricardo Cabral, conta com a participação dos vencedores do FIDBA do ano passado.) Há um ano atrás, participei no excelente curso de Argumento para Banda Desenhada, Ilustração e Animação 2D e 3D do CITEN (Centro de Arte Moderna da Gulbenkian) e fiquei ainda mais imerso nas imensas possibilidades que a BD apresenta, e surpreendido com a sua ligação com o mundo do cinema de animação. A fantasia não tem fim.
5) Agora, desde que trabalho (como redactor publicitário) não tenho tido muito tempo para escrever histórias, mas continuo a tê-las na gaveta. Quanto à leitura de BD, depois de um período em que o dinheiro escasseava, voltei a ter possibilidade de adquirir as fininhas revistas mensais (sim, Pedro, também prefiro as fininhas. Os TPB anulam o impasse do suspense até à chegada do número seguinte). Voltei a apaixonar-me pelas infinitas possibilidades desta realidade que, levada ao extremo, possibilita tudo, e onde a felicidade pode estar escondida no breve espaço entre duas vinhetas.
Era comic a minha corrente continuar por aqui:
terça-feira, março 14, 2006
A minha BD!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Salmão? Porquê?
Já respondi ao post! Foi um prazer!
O Salmão é que nada contra a corrente! Abraço!
Como sempre muito bom, até de uma simples descrição consegues fazer um belissimo texto literário, que dá vontade de ler... parabens e obrigado por seres quem és...
Generosas palavras, meu amigo! Grande abraço!
É sempre boa hora para ler o “Contraculturalmente” e a prova disso é que aqui vim parar onde encontrei um espaço muito agradável e ainda para mais encarnado
Obrigado pelo post-it, caro Seco. Fui analisar e fiquei com muita vontade de comer uma bela sandes d'atum (espero que a sandes não seja de papo-seco e que tenha, pelo menos, uma pequena parte húmida.) Abraço!
Tenho pena de não ter conseguido concretizar a história que escreveste para eu tentar fazer uma B.D. Ao menos fiquei a saber que não tenho jeito para desenhar e que escreves argumentos muito bons ehhe
abraço
Howdy!
Fiquei satisfeito de ver que aderiste ao desafio. Primeiro porque é sinal que continuas a ir espreitar o meu blog, apesar dos longos periodos de inactividade que ele tem. Depois, porque acho que em parte se cumpriu o objectivo desta corrente bloguistica, que me parece ser o de ficarmos todos a conhecermo-nos melhor.
Abraço, e continua com os teus posts que apesar de achares inconsistentes, são um prazer de ler e ver.
Enviar um comentário