quinta-feira, março 16, 2006

A poesia da loucura...




















António Luís Valente Gancho
nasceu em Évora em 1940 e desde os 20 anos que correu várias instituições psiquiátricas. Dizia ser Luiz Vaz de Camões, Bocage, Kafka, Pessoa e todos os escritores que admirava. Dizia ainda que não sabia por que escrevia, que o escritor "só pode ser escritor quando já nasceu escritor" e que "a imaginação é tudo. É ela que deve estar ao comando da inspiração, quero dizer, a inspiraçao deve comandar a imaginação do autor, do escritor, do poeta." (in A Phala, n.º45).

Na minha juventude, quando as ideias e os ideais parecem brotar de cada mudança de tempo, de cada sopro do vento ou de cada nova paixão, pertenci a um grupo de precoces artistas de áreas como o teatro, a dança, a música, a literatura e até mesmo o design, que se auto-intitulavam percursores de um movimento artístico donominado por Dementismo. Exaltavamos a Loucura como ímpeto criativo e chegámos mesmo a criar um Manifesto onde racionalizavamos acerca dessa nossa insanidade. Com tal entusiasmo, realizámos uma apresentação ao vivo das nossas ideias com uma pequena representação que nos encheu o ego mas que acabou por nos devolver à realidade inteligente, causando a separação após concretizado o objectivo e deixando cristalizado no tempo aquele breve momento em que todos julgavamos ser os donos da loucura.
No dia 1 de Janeiro de 2006 faleceu António Gancho, um homem das letras que levou as letras onde elas menos gostam de ser levadas: ao cataclismo da desordem racional. Descobrir este autor, que eu desconhecia até ler um breve artigo sobre ele na revista "Os Meus Livros" (que tem uma característica diferente de todas as outras revistas sobre literatura: evolui), fez-me recordar essa minha breve experiência existencial. No entanto, fez-me também pensar acerca da origem da loucura em si, naquilo que faz de um homem um poeta, um racionalista das letras, mesmo depois de viver quarenta anos embutido na loucura de um hospital, onde todos são loucos até prova do contrário.

1 comentário:

Anónimo disse...

ah... saudosa galinha... bons tempos... uma ideia a re-explorar....