segunda-feira, novembro 13, 2006

Para que servem as despedidas de solteiro?


Inverno. A noite chega cedo. Junta-se uma gataria de machos à porta de um health club qualquer para conferenciar enquanto se vêem umas gatinhas a passar. Trocam-se ideias e ideais para um fim de noite com gatas peladas com armas e varões assinalados. O gato enforcado não desconfia de nada. Estamos todos, vamos embora. Meia hora a abrir na auto-estrada do Sul e chegamos a Palmela por desvios bem escondidos. O kartódromo internacional estende-se à nossa frente com curvas e contra-curvas. Os pneus amontoados nas bermas estão mesmo a pedí-las. Aguardamos um atraso mal organizado e vamos à bola. Nos matrecos sou rei. À baliza. Acabam-se os trocos. Invícto. Os que ficaram no banco trincam umas sandochas com suminho. Quem vai guiar não bebe. Chega o chefe da casa, dá o briefing e manda os senhores para os bólides encharcados. Cú fresco, siga para a pista. Voltas de aquecimento sem nada a registar. Quinto lugar na grelha de partida. Pensava que tinha sido mais rápdio. Luz verde. Corta-relvas a fundo. Alguém ultrapassa alguém, alguém é ultrapassado. A corrida segue a todo o gasoil até que alguém faz um pião. Palmas. Mais umas voltas e alguém
decide subir uma ladeira. Gritos radicais. A corrida segue em grande estilo. Canto ópera em fortíssimo no interior da minha cúpula protectora. A poucas voltas do fim um dos gatos sente 
as curvas no estômago e encosta às boxes. Pouco depois a corrida acaba. Enquanto o último
classificado vai cuspir a bola de pêlo às urtigas, aqui o felino finca as unhas na medalha de um honroso 6º lugar (um lugar que ninguém desconfia...) e sente alegria por ter, ao menos, dado luta. Saímos de uns carros e enfiamo-nos noutros. Troca-se a indumentária para ficarmos apresentáveis para a noite que se prevê húmida e seguimos por onde viemos. Mais meia hora e estamos de novo em Lisboa. Chegados ao restaurante com 1 hora de atraso, agarramo-nos ao marisco e ao tinto como gatos selvagens. Brindamos a tudo e a nada. A fome é muita. A alegria é enorme. O convívio é estridente. Duas garrafas depois da primeira, o marisco começa a ganhar vida nos estômagos ainda enrolados pelas curvas. O álcool sobe e desce. O marisco volta a nadar. A noite ainda vai a meio e a casa de banho já faz fila. Chegam os digestivos. Está tudo fino. As felinas agarradas aos varões começam a ficar desfocadas. Os felinos selvagens parecem gatinhos de colo. Cabeças apoiadas em mesas, paredes e ombros amigos. O marisco ressuscita e adquire novo lar em bacias e retretes. A noite acaba antes da hora. O futuro é uma névoa. A morada também. Chegamos a casa trazidos por almas caridosas. As camas parecem melhores que as gatas atletas. As namoradas agradecem.

4 comentários:

kimo disse...

Maravilhosa descrição, para mim durou mais umas horas mas o final foi o mesmo... triste.

Anónimo disse...

Pelo que ouvi dizer não se fez cumprir a tradição por inteiro...mas se houver vontade marca-se para outro dia.
O meu agradecimento às almas caridosas!
Resta-me apenas dizer que alguém me ficou a "dever" 3 Favaios.

kimo disse...

Diz o roto que foi para casa depois de jantar.... Foste beber leitinho? Se eu não fui tb não tinhas nada que ir, não estavas pior do que eu... mas vá lá estás perdoado por que ganhaste a corrida.

Mike disse...

Tive a sorte de ter ido parar a casa, pois como estava podia ter sido qualquer outro lado um bocado mais duvidoso.