quarta-feira, janeiro 24, 2007

Porque é que a despenalização do aborto despenaliza mais os homens do que as mulheres?


Na onda das questões complicadas, esta é uma questão mesmo muito fodida. Antes de mais, esclareço que não sou partidário nem do “Sim” (coitadinhas das “inúmeras” mulheres que fazem abortos por dá-cá-aquela-palha e vão parar à prisão, que fazem abortos clandestinos em sítios sujos, que dão rios de dinheiro a clínicas macabras), nem do “Não” (valha-nos Deus tocar no produto do fruto proibido, nem que seja para o salvar de uma vida de perpétuas carências e sofrimento que mais não são, afinal, do que o caminho para a salvação). Faço parte deste movimento. Acho, no entanto, que a questão não envolve apenas mulheres e fetos.

Como toda a gente sabe, o verdadeiro poder das mulheres é conseguirem persuadir os homens a fazer tudo mas não conseguirem obrigá-los a fazer nada. Nesse sentido, é impossível uma mulher obrigar um homem a amá-la, obrigá-lo a usar preservativo e, muito menos, obrigá-lo a assumir um filho. Quantos desaparecidos em combate deixam as mulheres grávidas e sem um tostão? Com a despenalização do aborto, a mulher fica com uma noção falsa de liberdade para decidir acerca do seu corpo. E porquê? Se bem que é verdade que a sociedade condena primeiro a mulher que aborta antes de condenar o homem irresponsável que concebeu o feto, também é verdade que a maior parte das mulheres que aborta não o faz de “livre” vontade. Quer seja por terem sido violentadas, por deficiência do feto, por dificuldades económicas ou simplesmente por ser um filho indesejado, o maior número dos casos prende-se com um motivo primordial: o namorado/amante/marido não o quer assumir. E isto acontece, a meu ver, por três razões: porque houve sexo ocasional, porque é uma responsabilidade que muitos homens não têm coragem de assumir (principalmente entre casais jovens, em que muitos rapazes de 20 anos engravidam raparigas de 15 e depois desaparecem) ou porque aconteceu numa relação extraconjugal. Com a despenalização do aborto, não é a mulher que deixa de sofrer (o aborto ainda aleija, perder um filho pode mesmo ser traumático, ter um aborto no “currículo” pode comprometer seriamente uma relação posterior), mas sim o homem que finalmente pode dizer: “Foi um acidente, miúda. Agora fazes um aborto e isso passa. Adeus e até sempre.” Longa vida à despenalização? 

9 comentários:

Anónimo disse...

eu digo o mesmo que o "Marcelo", sim à despenalização, não à liberalização. Sou contra uma mulher poder abortar só porque naquele dia lhe apetece. A lei estava bem como estava aumentação para 10 semanas e despenalizava-se as mulheres, simples e eficaz. Continuava a responsabilizar homens e mulheres pelos seus actos irresponsáveis. Já não há acidentes nem desculpas para se fazer um filho sem saber, anão ser em caso de abuso, mas isso é outra coisa.... Massss... por outro lado... é uma eterna questão, sim ou não, e neste caso voto... NIM

abraço

Alexandr3 disse...

Eu vou votar não, mas não deixo de concordar convosco.

Voto não , porque à partida, só se pode votar sim se nas questões que nos colocamos não há nenhum não.

Se há 20 sins e um não, não podemos votar sim. Um não tem mais poder.. é mais responsavel..
se bem que eu n tenho 20 sins!!

Anónimo disse...

Eu sou completamente a favor do SIM!E é tão simples quanto isto..se o não prevalecer está-se a mexer com a liberdade do outro, se o sim ganhar ninguém vai obrigar ninguém a abortar..como é lógico. Acho que, e isso ainda não foi esclarecido, deve haver um limite de abortos que uma mulher pode fazer para não tornar isto "banal" como tantos gostam de afirmar..mas qualquer mulher, ou o casal, têm TODO o direito de querer ter o filho ou não, e se optar por abortar que tenha apoio especializado para que possa fazê-lo em segurança e com o mínimo de condições e não num vão de escada para acontecer uma desgraça e ir a correr para o hospital porque está com uma hemorragia ou qualquer outra complicação e que quando finalmente tiver atendimento médico tenha também 2 agentes da PJ a fazer companhia.

beijos By Xizzukka

Anónimo disse...

Se o casal não quer ter filhos não o façam... é muito mais simples e responsável... hoje em dia à muitas formas de contracepção e o aborto não é uma delas, é isso que critico na mentalidade das pessoas, e esta lei tal e qual a vamos aprovar, ou não, não é só uma despenalização, é uma liberalização e ainda um metodo contraceptivo de recurso... NIM o melhor voto...

Alexandr3 disse...

Xizzukka
se houver um limite de abortos, está-se a mexer na liberdade do outro...

E essas coerências??

Anónimo disse...

mas entre o SIM, com um limite, e o NÃO sem qualquer tipo de oportunidade de reverter uma gravidez indesejada, qual deles mexe mais com a liberdade? acho que o não..estarei errada? As pessoas não fazem ideia das barbaridades que por ai andam e que se passa na vida das pessoas que vemos cruzar o nosso caminho ao longo da nossa vida por isso acho que se deve dar a oportunidade às pessoas para decidirem sobre ter um filho ou não, porque um filho não é um carro, que quando está a dar muitas despesas vende-se, para ter um filho é preciso querer, para lhe dar o amor e apoio que precisa, e ter condições..mas é como já disse antes..ninguém obriga ninguém a abortar..

Xizzukka

Alexandr3 disse...

exactamente por isso é que voto não! um filho não é um carro. E uma relação sexual desprotegida é meio caminho andado para se ter filhos.

Mike disse...

Podem ler a minha singela opinião aqui:
http://blogariado.blogspot.com/2007/01/11-de-fevereiro.html

rob disse...

é bom ouvir-vos.
abraços